Por vezes Mia sentia que era tudo demasiado repetitivo
e insignificante, pois era uma menina meramente confusa como demonstram ser
basicamente todas as pessoas. Mas, ultimamente desde que terminou seu namoro de
quase 4 anos os pensamentos perturbadores aumentaram. Já passavam 4 meses desde
que o seu namoro acabou. Estava decidida que, o facto de ter terminado com
Diego não significaria que fosse correndo para os braços de seu amigo. Tinha de
respirar. Tiago não esteve longe durante esse tempo, apesar de Mia ter desejado
abandonar o centro de reabilitação que se tinha voluntariado, ter participado
na recuperação de seu melhor amigo e de algumas outras pessoas, deu-lhe no que
pensar e orgulhar-se. Tiago já tinha saído do centro, estava com mais ânimo,
com mais vida, quase como antes de tudo acontecer. Suas vidas eram de novo um
para o outro, todavia, tratavam-se ainda como irmãos para não terem de
enfrentar os seus sentimentos e assumi-los. Ouviu a buzina do automóvel de
Tiago. Estava muito atrasada e não tinha acabado ainda de tomar o
pequeno-almoço. Tinha o seu cabelo amarado num rabo-de-cavalo, uns ténis
pretos, uma t-shirt com barras de cor azul e branca e o seu macacão jeans.
-
Beijão Mamã! – Esticou seu lábios para o ar como se estivesse a beija-lo.
- Ok
querida, mantem contacto! – Avisa Laura sem ter a certeza que sua pequena ouviu
e percebeu o recado.
- Olá. – Cumprimentou Mia a Tiago.
- Olá, Atrasaste. –
Avisa Tiago.
- Estou dentro do carro não estou ? – Pergunta Mia retoricamente
enquanto Tiago arrancava .
Custava admitir, mas algo tinha mudado, embora
dificilmente podia notar-se.
- Ainda vais pegar-me após as aulas não é?
- Claro…
- Responde Tiago com um sorriso suave.
Mia, estava com uma disposição fora do
normal assim que chega a porta da universidade. Sentia-se como se tivesse
nascido. Seria porque amava tanto o que estudava LETRA. Hoje sua primeira
disciplina era Prática de Leitura e a ultima era livre que dava jeito, pois
ansiava visitar sua avó que vivia dois distritos antes do dela. Um pouco distante
ficavam duas horas de seu bairro.
- Boa tarde classe. – Saudou o professor
Baltazar, um dos mais estimados.
- Boa tarde professor. – ouviu-se um tumulto,
mas em tom baixo.
- Vamos lá, com a nossa aula. Hoje vamos começar por ler o
poema de António Agostinho Neto. – Diz Baltazar gesticulando sua mão de modos a
que Sofia levanta-se e fosse lá ter, pois era a assistente do professor.
Sofia
era a companheira de estudo de Mia, a sua relação com ela era particularmente
académica, até que descobriu que era filha do dono do centro onde Tiago estava,
daí em diante já tinham mais tempo para interagir fora do campo da escola, pois
por vezes ela ia direito para o centro antes de ir para casa, assim como Mia.
Enquanto Sófia acabava de distribuir o poema, entre os colegas, Mia
voluntariou-se para ser a primeira a ler.
- Professor, posso ser eu. – Diz ela.
- Ok, Loiro ponha um som a tocar no aparelho, vamos criar um ambiente de sonho.
– Diz Baltazar. As suas aulas eram simplesmente fascinante , ele sabia apanhar
um momento e tornar NO MOMENTO. Mia soltou o lindo som, sereno, suave, delicado
de sua voz para ler o título – Noite. E assim continuou.
NOITE Eu vivo nos bairros escuros do mundo sem luz nem
vida.
Vou pelas ruas às apalpadelas encostado aos meus
informes sonhos tropeçando na escravidão ao meu desejo de ser.
São bairros de escravos mundos de miséria bairros
escuros.
Onde as vontades se diluíram e os homens se
confundiram com as coisas.
Ando aos trambulhões pelas ruas sem luz desconhecidas
pejadas de mística e terror de braço dado com fantasmas.
Também a noite é escura
- Exatamente. – Diz Baltazar.
-Agora Alice, o que é a leitura?
- Stor, a leitura, a leitura é o acto de ler.
- Francisco?
- Professor a leitura é a interpretação das palavras e das
informações.
- Falta um pequeno detalhe, Podes Mia?
- Professor, a leitura é a
interpretação pessoal das informações.
- Então o que percebeste, Paula!. –
Pergunta o professor.
- Ele obviamente transcreve para o papel aquilo que era
situação da população naquele tempo em Angola. Mas podemos pensar que ele
escreve de forma metafórica o seu estado de espirito.
- Podemos, pegar nessas
palavras e torna-las nossas. Como por exemplo ele fala de bairros de escravidão
e bairros escuros do mundo a escravidão hoje em dia, não é apenas física, temos
os tais ditos vícios, os desejos inquietantes, o medo, que são sentimentos que
prendem-nos e faz de nós a prisão para qual ninguém tem a chave. – Adiciona Mia
sendo interrompida pela Sofia.
- Os bairros escuros podem ser interpretados
também como uma vida melancólica.
A aula continuou, mas como sempre terminou
sem que os alunos quisessem.
- Foi bom o dia, até amanha, continuem inspirados.
– Falau o professor Baltazar saindo da sala com seu lindo sorriso. Enquanto as
outras meninas comentavam sobre os vestir do professor, o falar e sua
elegância, Sofia e Mia fizeram o caminho para o refeitório.
- O que fazes hoje
Mia? – Pergunta sentando-se na mesa que ficava no fundo.
- Vou ter com minha
avô, na companhia do Tiago.
- Ele está bem não está? - Está sim, graças a Deus, cada dia
melhor. – Responde Mia com o sorriso mais sincero e feliz com olhos de mel
claramente brilhando.
- Já namoram então? - Claro que não Sofia, que pergunta é
essa?
- Para o quê tanta admiração, pensei que ele fosse o motivo pelo qual
terminaste com Diego. De qualquer forma penso que Diego já, seguiu em frente.
-
Não exatamente, o namoro terminou porque tinha de terminar. E o que queres
dizer com seguiu em frente?
-Vi-lhe com a Chila.
- Não me interessa.
- Foste tu
quem perguntou. – Respondeu Sofia vendo que ela ficara fula de ciúmes.
- Ok
desculpa-me. – Diz Mia soltando um sorriso, para recompensar Sofia pela má
resposta.
- Sei que não gostas de falar sobre isso, mas, por mim ficarias logo
com Tiago.Ouvir aquelas palavras fizeram-na arrepiar, só de pensar, em como
seria.
Finalmente o dia terminou, pelo menos a parte dele que teria de passar na
escola. Tiago já estava a espera dela. O moreno era lindo, sua expressão facial
era simplesmente radiante. Tinha a porta do condutor aberta. Ela conseguia
observa-lo. Descansava apoiado ao respaldo da cadeira, e tinha os seus
auscultadores aos ouvidos. Desejava chegar e beija-lo. Mostrar para o mundo
inteiro que ele era dela, e ela era simplesmente sua.
- Bonitão. – Sussurrou
Mia dando-lhe um beijo suave na testa.
- Oi. – Diz gemendo, como se tivesse
acordado de um sono profundo. Mia deu a volta por frente e sentou-se no seu
lugar " ou seja no pendura".
- Estavas aqui muito tempo? Perguntou, curiosa.
- Não, muito. – Diz
fazendo a expressão de análise.
- Estas cansado, deixa eu conduzir! – Propõe
Mia fazendo os olhos de um cãozinho molhado.
- O quê? Nunca! demorou para
darem-me de novo um automóvel. – Fala Tiago vasculhando a procura de ninguém
sabe o quê na sua mochila preta.
- Va lá , tu sabes que até não sou má. – Diz
puxando Tiago para o lugar que ela ocupava . Passou por baixo dela, enquanto ela atravessava-o feito
uma ponte para o lugar do condutor.
- Ainda nem tens as tuas cartas. – Diz
cedendo.
- Recebo próxima semana. – Diz arrancando velozmente. Tiago já não
aguentava, aqueles quarenta minutos de pavor já eram o suficiente, com Mia no
volante.
- Vamos passar aqui no Take- Away. E vamos trocar de lugar já.
- Que
desfeita eim! Mas ok, vejo que estas assustado. – Diz Mia rindo-se do estado do
Tiago enquanto ela conduzia.
- Aproveito e ligo para minha mãe que já estou na
estrada. Estacionando o automóvel. - ok. Respondeu.
- Podemos comer no carro?
Sim ! – Perguntou e respondeu logo.
- Já venho. – Diz Tiago indo em direção ao
restaurante.
- O Habitual . – Gritou Mia pela janela.